PATRÍCIA KOGUT

Na última semana, falei aqui sobre os truques empregados no terceiro episódio da quinta temporada de “This is us” (Fox) para reunir Kevin (Justin Hartley) e Madison (Caitlin Thompson) num mesmo cenário. Disse que o espectador mais atento notou que os atores não estavam juntos de verdade. Eles contracenavam com um figurante que só aparecia de costas. A mágica do encontro era, portanto, obra do computador. No capítulo seguinte (“Honestly”), outro fato chama a atenção: o filho de Kate (Chrissy Metz) e Toby (Chris Sullivan) quando bebê desapareceu do ar e sequer é mencionado. O casal só fala na menina que vai adotar. Esse é só mais um dos indícios de que a atual temporada é diferente de todas.
As gravações aconteceram em setembro, em plena pandemia. Cenas com muita gente ou beijos e abraços ficaram de fora. Vemos muitos usando máscara. O coronavírus é mencionado com frequência, justificando tudo. Apesar disso, a trama conservou a sua carga de emoção. Muitas das situações apresentadas enternecem por identificação: os Pearson são gente como a gente. Deu tudo certo. Ou quase: essas condições de produção impostas pela pandemia acabaram originando um subtexto inesperado. É impossível mergulhar totalmente na ficção. O espectador fica matutando: será que essa ou aquela cena foi feita com a presença de todos os envolvidos ou a direção disfarçou a distância entre os atores usando a tecnologia? Esse efeito colateral funciona como uma distração desagradável. A Covid não é só mais um personagem da trama. Ela, às vezes, se materializa como intrusa.