O que desfilaram as grifes Dior, Schiaparelli, Chanel
Gilberto Junior

Antes de cada desfile de sua maison, Christian Dior tinha o hábito de consultar as cartas de tarô para saber o que o futuro lhe reservava. Primeira mulher a comandar a grife francesa, a estilista italiana Maria Grazia Chiuri resgatou à sua maneira a tradição ao colocar o misticismo como ponto central da coleção de verão 2021 de alta-costura. Diante de todas as restrições impostas para conter a segunda onda de Covid-19, a designer apresentou as preciosas peças por meio de um filme dirigido por seu compatriota Matteo Garrone. Juntos, criaram um mundo mágico e misterioso, com códigos da marca revisitados e atualizados — pense na clássica jaqueta bar — e um jogo interessante entre o masculino e o feminino.

Seguindo essa linha surrealista, o americano Daniel Roseberry colocou o sonho em pauta na couture de Schiaparelli. Acessórios fantásticos faziam par com looks esculturais, que, em muitos momentos, lembravam a silhueta de heróis musculosos das histórias em quadrinhos. Com vestidos de suspirar, o italiano Giambattista Valli provou novamente ser um mestre das proporções ao domar metros e metros de tules, desenhando uma coleção com forte perfume espanhol. Enquanto isso na Chanel, Virginie Viard apostou no rigor da alfaiataria, sem abrir mão de babados, flores e um trabalho primoroso de volumes.
Nessa difícil equação, que tenta encontrar o equilíbrio entre o real e a ficção, quem triunfou foi o italianíssimo Pierpaolo Piccioli. Saíram de cena os looks espetaculosos da temporada passada para entrarem as peças que dialogam com desenvoltura com a contemporaneidade. Roupas confortáveis para um dia a dia não tão básico apareceram ao lado de outras que clamavam por uma certa dose de escapismo. “A couture é uma grande mise-en-scène”, define a consultora de moda Costanza Pascolato. “A coleção de verão da Valentino é sensacional, vai além da fantasia e do baile. Gosto bastante também da Schiaparelli, porque traz essa visão surreal, coloca o lúdico na conversa.”
Sonhar nunca foi tão necessário.